03/02/2010

SÃO PAULO: AME-A OU DEIXE-A

FOTOS: ESTADÃO E DAEE

Está ficando insuportável viver em São Paulo. Começo a me sentir  em pânico só em imaginar um fim de tarde caótico na cidade...

Isso, porque posso me considerar privilegiada em viver e trabalhar no mesmo lugar. Se eu tivesse que pegar o carro para voltar do trabalho para casa, ou se vivesse na zona leste, com esse caos das chuvas de verão, acho que já teria pirado.

Meus hábitos também contribuem para que eu seja privilegiada: procuro realizar as minha atividades  pé ou usando o meio público. Escolho serviços mais próximos da minha casa. O mesmo diria com relação ao comércio. Nem sempre vale à pena andar mais para pagar menos. Evitar o trânsito e as enchentes para mim vale mais.
Porém, como não saio tanto, fico com muito mais medo de ultrapassar os meus limites, e acabar presa em um congestionamento, ou em um alagamento. Ficar parada no trânsito, além do calor pode ser sinônimo de um assalto. Confesso que por isso mesmo sou avessa a carros e a volumosas bolsas de marca, que só despertam a  a atenção dos mau intensionados. Sem ar condicionado, hoje, é inviável, mas me esconder atrás de um filme, eu não me escondo. Era o que faltava agente viver como fugitivo.

Já os alagamentos são terríveis. A sensação é de impotência total. Vivi essa situação uma vez por descuido e nunca mais. A sorte é que eu tinha um carro alto e colei em um caminhão... consegui sobrevier. Não me arrisco mais. Procuro não andar mais na Marginal do Tietê nesses tempos de obras e chuvas.

Infelizmente, nem sempre temos controle. Fiquei paranóica outro dia. Além de ter caído na Marginal contra a minha vontade, o carro ainda quebrou às 11h00, embaixo de um sol de mais de 30 graus, e muitos caminhões parados ao meu lado. Se eu não tivesse 1/4 da minha garrafa de água cheia, eu teria entrado em pânico de morrer seca como um figo! Peguei o primeiro táxi bondoso que parou para mim e minha filha e larguei meu filho esperando o guincho.

E assim estou vivendo. Com medo de tudo e de todos!

 
Anhangabaú em 1929 e hoje.

A questão dos alagamentos é histórica em São Paulo. Uma cidade com tanto rios e córregos, como já escrevi em vários artigos meus,  é propícia a esse fenômeno. Em vez de criticarmos as autoridades, devemos aprender a respeitar a topografia da cidade, e a sua hidrologia. Tratamos nossos rios como verdadeiros canais de esgoto. Devemos pensar N vezes antes de adquirirmos um terreno, um imóvel e construirmos. É importante nos informarmos sobre o zoneamento, o histórico pluviométrico da região, o tipo de solo... para evitar surpresas nas épocas das chuvas.



Mas, devemos principalmente não sujarmos as nossas calçadas. Me revolta, porque vejo muitas pessoas bem informadas, com grau universitário, MBA e tudo mais, jogando a sua bituca de cigarro ou chiclete na rua. Isso sem falar das latinhas de cerveja e outros.

Se não há lixo no caminho, eu guardo o descarte na minha bolsa. Vou jogar em casa ou em outro lugar. Em casa, eu separo tudo. E ainda estou com mania de guardar tudo o que acho bonito para transformar em alguma instalação, quadro ou qualquer outra coisa assim...

Além de evitar a impermeabilização do solo, devemos ocupar melhor os espaços. Sou adepta da ocupação mista. Tantos prédios vazios, que poderiam se transformar em habitações de interesse social, porque não? Acabariam com os transtornos na hora da locomoção, despejaria muito menos CO2 na atmosfera, gastariamos menos com transporte. Em vez de permitirmos que sejam erguidas construções nas varzeas e encostas, onde acontecem as avalanches catastróficas.

O governo deve entrar com a infraestrutura acompanhada da educação, o treinamento, a informação. E nós, participando mais da nossa cidade, do nosso bairro, do nosso condomínio.

Aí entra o Ame-a ou deixe-a. Ou batalho para que ela sobreviva a esta nova era, e meus netos e bisnetos possam recontar esta história. Ou desisto de tudo isso, e vou embora desta cidade. Por enquanto, estou com a primeira opção, mas não sei por quanto tempo... E você?


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