21/11/2009

PLURESIA


Capas do livro "Pluresias", resultado da Oficina de Poesia Concreta, coordenada pelo Coletivo Dulcinéia Catadora, que aconteceu na Biblioteca Alceu Amoroso Lima



GILBERTO DIMENSTEIN escreveu na Folha de São Paulo, do dia 18/11, sobre o trabalho desenvolvido pela  coordenadora do Coletivo Dulcinéia Catadora, Lúcia Rosa:

Poesias de concreto
"Um dos garotos disse que pensava que poesia era aquilo meloso que se escreve para a namorada"

ATÉ esta semana, aquele grupo de 15 grafiteiros jamais imaginaria que um amontoado de palavras soltas, espalhadas pelo papel, sem formar uma frase, também poderia ser chamado de poesia. Viram, ali, algo parecido com as letras que desenham nos muros -e, assim, Lúcia Rosa apresentou-lhes o movimento concretista. "Eles estão aprendendo que existem diversas formas de fazer poesia."

O resultado dessa mistura será apresentado numa biblioteca no próximo sábado, durante a Balada Literária -esse evento se espalha pelos mais diferentes pontos da Vila Madalena, dos botecos, passando por centros culturais, até livrarias. É uma extensão geográfica do que já ocorre quase todas as madrugadas na Mercearia São Pedro.

Os grafiteiros vão exibir na biblioteca Alceu Amoroso Lima, especializada em poesia, livros artesanais com a mescla de objetos, palavras, cores e desenhos, numa experiência que Lúcia Rosa chama de poesia visual. "Um dos garotos disse que pensava que poesia era aquilo meloso que se escreve para a namorada."

A experiência -batizada de poesia visual- é uma espécie de síntese da própria Lúcia, que, aos 9 anos de idade, ganhou um prêmio na escola pública em que estudava e o direito de fazer um curso livre na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado). Começaria aí uma de suas grandes frustrações.

Queria estudar artes plásticas, mas a família não gostou da ideia.
Concedeu e fez Letras na USP. Daí tirou seu sustento, com traduções do inglês.
A união da literatura com as artes plásticas começou a surgir em 2007, quando já estava com 54 anos. Convidou moradores de rua e carroceiros para fazer a capa de livros, a partir dos papelões jogados fora. Lúcia pedia textos exclusivos a escritores -o poeta Manoel de Barros foi um dos que se propuseram a entrar nessa editora, batizada de "Dulcineia Catadora".

Lúcia montou sua oficina-editora num galpão grudado em um beco, onde grafiteiros expõem suas obras. Seu espaço era todo decorado com as capas dos livros, tão coloridas quanto os muros do lado de fora. A combinação de cores ajudou nos contatos, trazendo, nesse encontro, personagens improváveis como os poetas concretistas, desconhecidos dos grafiteiros, para quem concreto era o muro em que pintavam.

Durante as oficinas, eles foram descobrindo como fazer um livro -e, mais do que isso, aprenderam que seus muros, feitos de concreto, espalhados pelas esquinas da cidade de São Paulo, também são uma forma poética.

Não é por outro motivo que essa forma de arte entrou, nesta semana, pela porta da frente no Masp (Museu de Arte de São Paulo) e está atraindo milhares de pessoas para uma exposição da Faap -onde, aliás, aos 9 anos, Lúcia começou a montar seu projeto de vida.

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